2 poemas de “rumor” de Tenille Bezerra

 

XVIII

 

desperto da última febre: insetos rolam cascatas
pela boca em chamas, pés descalços andam
em círculos, debocham da cabeça túrgida
onde minam pensamentos. sangue diz: corre!
o cheiro de terra úmida acalenta meus olhos
onde relampeiam silêncios. aos braços bailando
no ar peço ajuda para levantar, em pernas de
pau voluntariosas adentro a aldeia do meu peito,
abandono as palavras que revoam inúteis em
direção ao céu. olho no fundo dos olhos do jaguar.
me vejo no azul do fim do mundo em mim.

 

 

XIX

 

pelos olhos desvia
pela boca saltavungia
ingava corpo de mato
matava vivia
gabava ta teava
nexolento
presente ruge urge
rasga o ente
considera o mundo em si
mata o mundo
volta ao mato: pressente
tudo cabe no olho
que já não vê
o ser
já era
o som do último minuto
silêncio
o mundo é mudo
quebraram o ovo do novo
restou o não na borda do si.

TENILLE BEZERRA

(em “rumor” – Editora Moinhos, 2017)

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Tenille Bezerra (Valença, BA, 1981) vive em Salvador desde 1998, onde trabalha com cinema. “rumor” é seu primeiro livro de poesia. O livro de Tenille Bezerra está disponível na livraria Boto-cor-de-rosa.

No dia 07 de julho 2017, Tenille Bezerra estará na livraria do boto para leitura e bate-papo sobre”rumor”. Todos bem-vindos. Saiba mais e confirma a sua presença aqui.

Sobre Mergulhos da boto: Nossos mergulhos por águas, terras, espaços siderais, montanhas, páginas, vozes e imagens. leia mais aqui.

 

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