Teve um dia que parecia muito com esses dias que vão chover
eu entrei numa casa e disse se ventar agora eu vou morar aqui
floriu; agora é perto dela que eu gosto de passear
não é por nada é que tem uma esquina
com quatro estabelecimentos: um armazém
um posto de gasolina um sobrado e um prédio
feio porque fino e também azulejado que ajuda
a empurrar de pêndulo em pêndulo uma corrente
de vento enlutado, logo, mais vivo; aqui o silêncio não é continência
é uma variedade particular que faz parecer que as coisas estão perplexas
e estão no tempo de alguns segundos intervalados tudo está felizmente parado
exceto os cachorros as crianças e as folhas todo o resto usa algum tipo de coleira
a idade é uma delas; eu passeio nessas ruas só porque as folhas andam atrás de mim
enquanto eu caminho (uma delas ficou presa num pedaço de pau, outra num poste)
e sempre que algo assim que parece não existir mas existe e se revela eu digo olá.
Bruna Beber
Bruna Beber nasceu em 1984, em Duque de Caxias (RJ) e vive em São Paulo. É poeta e tradutora. Estreou na poesia com a fila sem fim dos demônios descontentes (7Letras, 2006), e é autora também de balés (Língua Geral, 2009), rapapés & apupos (7Letras, 2012), Rua da Padaria (Record, 2013) e de um infantil – Zebrosinha (Galerinha, Record, 2013).
Os livros de Bruna Beber estão disponíveis na livraria Boto-cor-de-rosa.
Sobre Textos fora do mapa: Aqui publicamos poemas, ficções, resenhas e crônicas inéditos de escritores brasileiros e não brasileiros, que muito generosamente escolheram compartilhar aqui. Tudo que você encontrar nesta seção aparece aqui pela primeira vez. Textos fora do mapa, assim como todas as seções deste site, inclui textos em diferentes línguas conhecidos ou em nenhum idioma previamente conhecido.
Crédito da foto: Elisa Mendes.