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você pode, e com razão,
ver que me faltam boas ideias
e que tendo a apelar pros grafismos
como forma de expressão
que faltam sinais de pontuação
imagens com algum sentido
refletindo um trabalho sério com a linguagem e
fingindo algum rigor obstinado
na precariedade travestida de escansão
que me faltem caracteres
mas que nunca me falte caráter
e nunca me quebre a guia
o guia dos meus ouvidos
o rufo tosco e bem batido
deste pobre
coração
***
o sorriso de Laerte
porque quando nos sonhos parecia
tudo bem melhor
não era
sonho.
parecia
bem melhor
que a vida
e não valia a pena
que escrevia e desenhava
à pena
a duras penas
não valia
a vida sem sentido
dá avisos
há vida pulsando
o tempo urge
e às vezes dói lembrar
então seguir em frente
desenhando esquinas
com a ponta do salto o pivô
sabendo tudo muito sério
inclusive o sorriso estampado
e a lisura do vestido.
a moda agora é sóbria,
nós não podemos ser.
é uma questão política:
o contraste é estratégia
de quem milita a alegria.
ALEX SIMÕES
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Alex Simões (Salvador, 1973) é poeta e performer. Publicou “Quarenta e Uns Sonetos Catados” (Domínio Público, 2013) , “(hai)céufies” (Esquizo Editora, 2014) e “Contrassonetos Catados & Via Vândala”(Mondrongo, 2015). Tem um blog: toobitornottoobit.blospo
Crédito da foto: Edgard Oliva